Repórteres contam suas experiências pessoais no maior evento de futebol do planeta
Por: Daniel Magalhães e Marcus Vinícius
Uma das maiores preocupações em torno da Copa do Mundo do Catar, que ocorreu em 2022, era sobre a mistura de culturas distintas em um país considerado “fechado” em relação às normas praticadas no resto do mundo. O Catar, que tem origem islâmica, tem uma cultura muito rígida em relação aos valores pregados pela religião, o que botou em xeque, por exemplo, a presença da imprensa de todo o planeta na cobertura do evento.
Grandes emissoras, como a Globo, fizeram, inclusive, um manual de comportamento para os profissionais da imprensa se adequarem no Catar. Logo nas primeiras páginas, a direção explica que as regras são para evitar que quaisquer funcionários no país sejam presos por descumprir a legislação. Segundo apuração do site “NaTelinha”, a emissora recomenda evitar manifestações de afeto em público - lembrando que a homossexualidade é proibida no país.
Apesar do sucesso da competição, muitas histórias acerca da cobertura jornalística brasileira vieram à tona nos últimos meses. “É um olhar invasivo, que deixa a mulher desconfortável.” Foi o que disse a repórter Karine Alves, em entrevista ao jornal O Globo, onde afirmou que teve seu trabalho como correspondente dificultado pela diferença cultural: “Não chego a sentir medo, mas fico mais alerta, cautelosa. Até para respeitar a cultura também, que é totalmente diferente da nossa”.
Foto: Reprodução
Já Domitila Becker, do SBT, comentou em suas redes sociais sobre o tratamento hostil que recebeu no Catar após conversar com mulheres iranianas, que sofrem com o sexismo presente em seu país natal. “Que noite desesperadora”, disse a repórter. “Na torcida, as pessoas começaram a me perseguir. Para onde eu ia, eles iam me acompanhando, começaram a tirar foto minha, das pessoas que eu estava conversando e do meu crachá.”
Na saída do estádio, Domitila afirmou que um grupo de homens perseguiu uma garota iraniana, que estava sangrando. A jornalista desabafou: “Eu estou com medo real por essas mulheres que vieram aqui e que estão protestando pela vida e família delas”.
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Por fim, Diogo Defante, membro da cobertura da CazéTV no Mundial, recebeu ameaças de um catariano após dar um beijo em outro homem: “O cara foi e comentou no Twitter um bagulho meio preconceituoso também, eu fiquei: ‘mas pra que o cara foi marcar esse cara?’ Fiquei bolado”.
Além disso, Defante quase foi preso por imitar um leão ajoelhado no chão durante uma transmissão ao vivo da CazéTV. O profissional estava fazendo uma cobertura entre Marrocos x França na semifinal da Copa do Mundo. “Os árabes ficaram um pouco revoltados ali com o meu rugidinho”, declarou Diogo.
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É importante que esse tema seja levantado e debatido para, além de analisar a cobertura jornalística brasileira na Copa em si, abordarmos a importância do respeito e convivência entre culturas muito diferentes do que é habitual no Catar. Isso possibilita a análise do futebol como um fenômeno sócio-cultural poderoso para unir povos e naçõesDe modo geral os brasileiros tiveram algumas dificuldades no país árabe, como problemas de adaptação a cultura e as leis de uma nação tão rígida como o Catar, até mesmo intimidações como por exemplo o caso de Domitila e Karine. Independente das adversidades e dos obstáculos, os profissionais conseguiram fazer uma grande transmissão, trazendo informação ao povo brasileiro durante a Copa do Mundo.
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