Giovanna Peres
Você provavelmente já viu várias vezes na televisão, ou no jornal escrito, matérias sobre a política brasileira. Elas estão muito presentes em nosso cotidiano, e são importantes para compreender o que ocorre em nosso país.
Segundo Jürgen Habermas, filósofo e sociólogo alemão, o debate livre e racional é fundamental para a democracia em um país. Nesse sentido, o jornalismo exerce uma função primordial para que as pessoas tenham acesso a informações verídicas e com credibilidade e para que o regime democrático seja respeitado. Porém, nem sempre a imprensa esteve inserida em um contexto de liberdade para fazer essas publicações.
Durante a ditadura militar no Brasil, após o golpe de Estado de 1964, a censura imposta criou uma lista de assuntos proibidos. De acordo com a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, essa foi uma tentativa de impedir que a população tivesse conhecimento sobre os principais acontecimentos, principalmente a violência e tortura contra muitas pessoas inocentes.
Como alternativa, surgiram diversas publicações organizadas pela esquerda brasileira. Bernardo Kucinski, jornalista e escritor do livro “Jornalistas e Revolucionários – Nos tempos da imprensa alternativa”, relata em sua obra que, entre 1964 e 1980, surgiram e morreram cerca de 150 periódicos que se opuseram ao governo vigente.
Periódico Versus, lançado em 1975, que continha publicações sobre a política latino-americana (Imagem: Reprodução)
Dirigido por Millôr Fernandes, o tabloide Pif-Paf, lançado em 1964 após o jornalista ser demitido de O Cruzeiro, marcou a primeira fase do ciclo alternativo. Ele fazia oposição por meio do humor e teve oito edições. Em sua última edição, Millôr Fernandes afirmou que o país acabaria se tornando uma democracia, caso o jornal continuasse a ser lançado:
"Quem avisa, amigo é: se o governo continuar deixando que certos jornalistas falem em eleições; se o governo continuar deixando que determinados jornais façam restrições à sua política financeira; se o governo continuar deixando que alguns políticos teimem em manter suas candidaturas; se o governo continuar deixando que algumas pessoas pensem por sua própria cabeça; e sobretudo, se o governo continuar deixando que circule esta revista, com toda sua irreverência e crítica, dentre em breve estaremos caindo numa democracia."
Primeira edição do Pif-Paf (Imagem: Reprodução)
Atualmente, diferentemente do período do regime militar, a imprensa opera com maior liberdade, garantindo que a população tenha acesso a assuntos que envolvam a política nacional. Segundo a publicação Jornalismo e democracia são sinônimos, escrita pelo jornalista Luiz Roberto Serrano para a Associação Profissão Jornalista (APJor), a partir dos anos 1990, o panorama da imprensa mudou bastante. A internet e as redes sociais possibilitaram a democratização da comunicação e a expansão do jornalismo. E, em um momento em que os meios digitais estão tomados por fake news e desinformação, o jornalismo de qualidade é crucial para informar bem a sociedade.
Entretanto, vale ressaltar que, mesmo com toda a sua importância, a imprensa também possui deveres. De acordo com o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, as informações divulgadas pelos meios de comunicação devem ser precisas e corretas e a apresentação desses conteúdos é uma obrigação social. Além disso, segundo o Art. 9º do código, cabe ao jornalista divulgar fatos de interesse público, lutar pela liberdade de expressão e respeitar a privacidade dos cidadãos.
O jornalismo ocupa um lugar de destaque em um país democrático. Ao noticiar acontecimentos de forma acessível, a imprensa auxilia os cidadãos a entender os processos da política, que, muitas vezes, são complexos. Outro papel relevante é o de expor a corrupção e levar ao público notícias sobre os governantes quando eles não estiverem cumprindo com suas propostas para o país. Quando um jornalista é ameaçado, censurado ou atacado por realizar seu trabalho, toda a sociedade perde o direito de se informar.
Para que se tenha uma democracia ativa e para que os cidadãos possam formar sua opinião política, baseados em informações claras e concisas, a imprensa precisa operar livremente e com responsabilidade. Como disse Maria Ressa, jornalista filipina que ganhou o Prêmio Nobel da Paz 2021, “jornalismo é a coragem de falar a verdade ao poder.”
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