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A relação intrínseca entre a política e o novo normal

Como o futuro pós-pandemia pode ser afetado por fatores como polarização, disputas e radicalismo?

Anne Poly


A pandemia pegou a todos de surpresa. A esperança geral é de que tudo passe o mais rápido possível. Contudo, e se após esse período a realidade mundial for mudada de forma negativa e irremediável? A guerra de interesses durante o período de quarentena e suas consequências constituem a matéria Brasil terá dificuldade de superar polarização política em meio a pandemia de Luiz Calcagno, jornalista e escritor brasileiro, para o jornal Correio Braziliense. O novo normal, esperado por tantos, talvez não seja tão normal assim.

(Crédito: Marish/Shitterstock)


Luiz dividiu sua reportagem em três partes, mostrando perspectivas de diferentes profissionais em relação ao futuro pós-pandemia e suas repercussões políticas. Inicialmente, o liberalismo radical é discutido por ele, e, depois, também contemplado pelo analista político Melillo Dinis. A desigualdade de recursos financeiros entre as nações causa o desequilíbrio na disputa por maior proteção e itens de prevenção contra o novo coronavírus durante a pandemia, e quem tem mais dinheiro, conquista mais privilégios. O Brasil ainda, segundo o jornalista, precisa superar a crise dentro da crise. A postura negacionista do presidente Jair Bolsonaro, quanto ao panorama nacional do vírus, dissemina as fake news e gera riscos ao país. Essa realidade exposta na matéria revela o motivo de alguns brasileiros de extrema direita estarem propensos à recusa da situação atual, seguindo a conduta de seu líder governamental.


O analista político destacou que as estratégias do governo Bolsonaro já apresentavam solavancos antes desse momento, o que foi acentuado com a chegada do Covid-19. Ele afirma que é possível haver uma radicalização do liberalismo econômico ainda mais profunda, um apartheid social, com 90% da população vivendo na exclusão e na miséria, incluindo a classe média. Após tantas instabilidades na economia, é provável que o presidente acuse o governadores. E estes também o acusarão de ter demorado a agir, num ciclo infindável de troca de farpas. Ninguém assumirá a culpa, mas a vítima da consequência já é nítida: a população. Um pacto social pela defesa do Brasil democrático foi sugerido por Melillo, a fim de uma economia mais solidária e menos consumista. O cenário pós-pandemia, de acordo com o especialista, será gravíssimo se essa medida não for tomada. A partir dessa perspectiva, pode ser obtida com clareza a percepção de que qualquer decisão das autoridades, por menor que seja, impacta diretamente a vida de todos, e que nós, enquanto brasileiros, devemos acompanhar com atenção cada detalhe do quadro político do país.


Outro ponto de vista adotado pelo autor da reportagem é o de uma polarização profunda, questão também discutida pelo cientista político Geraldo Tadeu. O especialista argumenta que, embora a gravidade do cenário governamental supere esquerda e direita, as disputas políticas foram inflamadas com a chegada da pandemia. A solução para esse desafio seria algo além de um presidente que se comporta de modo estranho aos deveres do cargo. Para ele, tornar Bolsonaro menos efetivo seria benéfico para o Brasil. Nesse momento, é possível entender o quanto as divisões políticas desencadeiam problemas inflamados pelo ódio que bolsonaristas sentem por petistas e vice-versa. Ter um presidente que representa um extremo ideológico pode desestruturar completamente o país.


Por fim, a questão da disputa de poder é levada em conta por Luiz, acompanhada da visão especializada de Robson Sávio, coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC de Minas Gerais. O cientista político estabeleceu um panorama dramático para além da crise atual, destacando que os detentores do poder financeiro também são detentores do poder político, e que a crise atual também afetou esse grupo. Assim, a busca por um restabelecimento financeiro após essa profunda recessão vai aprofundar o acirramento de poderes. Embora deva ser considerada a existência de grupos sociais potentes, pouco vocalizados pela mídia, mas de intensa força, há a gravidade de uma realidade em que a luta pela soberania econômica é de potência quase absoluta, de acordo com o cientista político. O ponto de vista levantado por essa parte da matéria pode ampliar as perspectivas do leitor quanto ao impacto da economia no nosso dia a dia de maneira simples e útil.


Bolsonaro e Donald Trump usam esse período de pandemia com a intenção de ganho político, e seus posicionamentos em relação ao vírus são sobre as eleições, não sobre valores sociais e ideológicos. A reportagem ainda conclui que o presidente brasileiro entende que o esgarçamento das instituições democráticas é perigoso, mas tentará sair ileso das consequências disso, e provavelmente conseguirá. Essa postura indica uma indiferença quanto aos malefícios que atitudes imprudentes podem causar, o que não condiz com o comportamento que um governante deveria ter.


A matéria Brasil terá dificuldade de superar polarização política em meio a pandemia é de suma importância para aqueles que, mesmo não tendo profundo interesse sobre política global e brasileira, entendem que, de certa forma, elas reverberam em suas vidas. Os pontos de vista profissionais incluídos no texto revelam a parcialidade do jornalista quanto ao tema, ainda que de forma implícita. Sua busca por opiniões de profissionais não teve a intenção de abranger pontos de vista diversificados. O leitor que deseja descortinar a verdadeira face do “novo normal”, estando ciente do possível quadro negativo do futuro pós-pandemia, e preparando-se para essa hipótese, já sabe exatamente o que deve ler. Entretanto, não é a matéria mais recomendada para aqueles que desejam contemplar diferentes perspectivas a respeito do assunto.


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