Luís Gustavo
Arte da página do instagram do MigrEcos (Imagem: Reprodução)
"O que é que vai caber numa profissão só se eu me interesso por tanta coisa diferente?”: foi com essa pergunta que Bárbara Nóbrega, editora de Jornalismo Internacional da GloboNews, chegou a uma resposta: só sendo jornalista. Interessada e trabalhando com temas que vão de política e economia à cultura e meio ambiente, a potiguar de 28 anos que viveu entre os três Rios tem muita história para contar.
Nascida e criada no Rio Grande do Norte, Bárbara nunca tinha pensado nessa graduação. Foi então que, numa viagem com uma amiga para o Rio Grande do Sul, descobriu que o pai da colega era jornalista e se interessou pela profissão. Sempre gostou de falar, ouvir, compreender, buscar e se desconstruir: dessa maneira, percebeu que tinha as características primordiais de um bom profissional da área.
Por ironia do destino, sua mãe decidiu iniciar a pós-graduação em terras gaúchas. A jovem acreditou nesse sonho e embarcou junto: viajando de volta ao sul, foi na PUC-RS que iniciou sua graduação em jornalismo. Depois de um ano e meio vivendo na outra ponta do país, a vida a levou para outro Rio: o de Janeiro. A mãe finalizou os estudos e a filha não quis ficar sozinha: voltou para o norte, fez o Enem e foi aprovada na Universidade Federal do Rio de Janeiro, também para estudar comunicação.
Ao pousar em terras cariocas, planejamento e independência foram palavras-chave em sua adaptação. Anotando todos os ônibus que a levavam da casa até a faculdade, a recém-caloura percebeu que a Cidade Maravilhosa, assim como todas as metrópoles, também tinha suas questões culturais:
"O Rio é uma cidade em que o Cristo está de braços abertos, mas nem todo mundo está de braços abertos para você, assim como em São Paulo e em outras capitais [...] Muita gente me ajudou no Rio, mas também já lidei com muita gente que parecia estar irritado em me dar alguma informação.”
Esse choque social, contudo, não foi um fator que a impediu de ser quem era. Pelo contrário, ajudou no fortalecimento de sua identidade enquanto mulher nordestina e a fez desenvolver fortes laços de memória cultural:
"Vir morar no Rio me fez me reconhecer mais ainda como nordestina e potiguar, porque a todo tempo sou lembrada disso. Eu nunca passo despercebida por ser de onde eu sou, seja por um lado bom ou por um lado ruim."
Questionada sobre sua experiência na ECO, seu discurso mudou. Para ela, a universidade foi um dos locais em que mais se sentiu aceita "porque é um lugar que naturalmente traz a discussão de novas realidades que estão chegando na faculdade e milhões de outras interseccionalidades [...] Aqui eu era a Bárbara, antes de ser a nordestina”. Durante seus quatro anos de formação, sentiu que vinha primeiro do que todos os estereótipos.
De sua vivência no campo da comunicação, nacionalmente e internacionalmente, comentou sobre como existem pequenas sutilezas que reafirmam estereótipos durante a realização de algumas entrevistas e reportagens:
“Eu me sinto muito mais confortável entrevistando pessoas de outro país, porque ninguém me julga porque eu falo inglês. Aqui no Brasil eu já me senti julgada por pessoas que entrevistei, porque eu falo um português que, para elas, é diferente do delas.”
Numa conversa sincera, Bárbara se abriu e destacou os dois lados existentes na vida de um migrante, que muitas vezes enfrenta desafios ao tentar se encaixar em lugares que antes não lhe cabiam:
"Eu tento levar muito do lugar que eu vim para os lugares que eu vou, porque senão é muito fácil que os outros queiram que eu seja como eles, e não que eu seja como eu sou. Eu me tornei mais eu ainda, no sentido do que me forma e do que me sustenta."
Com sua atuação no jornalismo internacional, a ex-estudante da UFRJ acumula diversas experiências na área. A agência France-Presse, internacionalmente conhecida, fez-se muito presente em sua vida: ainda em Porto Alegre, enquanto estudava na PUC, teve a oportunidade de trabalhar como estagiária na comunicação da Copa do Mundo. Em 2015, já no centro dos Jogos Olímpicos, em meio à cobertura, a potiguar também só trabalhava falando em inglês. Foi dessa maneira que seu perfil profissional foi se moldando, auxiliando na conquista do emprego no jornal O Globo — onde trabalhou nas editorias de mundo e de economia — e, posteriormente, na GloboNews. Não foi fácil, mas era o seu sonho e o de muitas outras pessoas que Bárbara carregava:
"Ser migrante torna a gente ainda mais responsável pelo nosso sonho, porque a gente tá abrindo mão de muita coisa que a gente podia não estar passando e a gente decidiu estar aqui. A gente tem a obrigação de dar o nosso melhor no que a gente fizer, para valer a pena todo o sacrifício que a gente tá fazendo.”
Com um trabalho que envolve contar histórias de pessoas de todo o mundo, a editora acredita muito no poder de abrir caminhos para narrativas diversas:
“Quando um jornalista decide para quem vai abrir a porta, toda uma reflexão tem que passar pela cabeça dele: quais são as pessoas que eu nem estou pensando que podem chegar aqui na porta? Por que eu, talvez, escolha sempre as mesmas pessoas para a porta?"
Questionada sobre o futuro do jornalismo, comentou que, apesar da constante modernização da comunicação, existe uma característica do jornalista que jamais poderá ser substituída: o lado humano. Bárbara acredita fielmente num jornalismo que dialogue com outras bolhas e que se utilize do poder da sociabilidade. Para que isso se concretize, sobretudo, "um bom jornalista antes, agora e depois, tem que ser curioso. Não pode ser acomodado, tem que ser aberto ao diálogo e às diversas realidades."
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