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Aldir Cony: como ser um editor de texto

Atualizado: 5 de set. de 2022

Por Mylena Larrubia


“Quando for assistir o Jornal Nacional, pensa em cada escolha que está sendo feita. Já vai começar a ter uma visão de que não é nada aleatório, sabe. Se aquela matéria abriu o jornal e a seguinte foi tal outra matéria, não foi por acaso, tem uma escolha naquilo.” (Aldir Cony)

O editor Aldir Cony foi entrevistado na terça-feira (15/02), por Júlia Mendes e Deryck Alvez. A entrevista foi realizada para o ECOnversa, projeto do curso de Jornalismo da UFRJ. Ele falou sobre telejornalismo por trás das câmeras, sua motivação para escolher esta profissão e os caminhos que percorreu na carreira. Formado em Jornalismo pela Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, Aldir trabalha como editor de texto na GloboNews.



Aldir, que contou ter chegado à escolha do Jornalismo por gostar de fazer redações no colégio, e por receber elogios por isso, diz que sempre teve o “hábito de criança velha”: gostava de assistir jornal na TV. Ele afirma que temos o repórter como referência na profissão, pois é o que mais vemos. Mas que, na televisão, dificilmente se inicia nessa função; a porta de entrada, segundo o entrevistado, costuma ser na função de produtor ou de editor.


Ao ser indagado sobre projetos da faculdade que contribuíram para sua carreira, Aldir respondeu que a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na sua época, era pouco técnica, que dava pouca experiência prática do ato de fazer reportagem, entrevistar ou montar um roteiro, por exemplo. E elogiou o ECOnversa, dizendo que o projeto permite desenvolver na prática essas habilidades. O jornalista disse que, apesar de não ter praticado muito, esse espaço universitário proporcionou um pensamento crítico mais aguçado, o que, para ele, foi fundamental em sua formação.


“Existe como compensar. É melhor você estar numa faculdade que, às vezes, não dê tanto espaço prático, mas que faz refletir e ter mais pensamento crítico. Porque você por conta própria consegue, por exemplo, fazer uma página no Instagram, criar um projeto, chamar jornalistas... já o contrário, não é tão possível assim. Se você estiver numa faculdade que é extremamente técnica, ela vai te ensinar tudo sobre qual botão você tem que apertar na câmera pra fazer não sei o quê. Tudo bem, mas assim… onde é que você vai ter esse espaço, então, da troca, do aprendizado, da leitura?” (Aldir Cony)


Uma das questões da entrevista foi o trabalho de conclusão de curso (TCC) de Cony: Desfocado, um documentário, formato não muito comum nesse tipo de atividade. Ele diz que, com isso, pôde aproveitar um ambiente seguro da faculdade, em que se pode errar e conseguir ajuda, para ter uma experiência prática de mercado. “Documentário, no final das contas, é uma reportagem. É aprofundado, mas nada mais é do que uma reportagem”, diz o jornalista. A produção audiovisual tratou da morte do cinegrafista Santiago Andrade, da Band, que foi assassinado, atingido por um rojão quando cobria uma manifestação. Naquele momento, Aldir estava começando um estágio na mesma emissora, sua primeira experiência numa redação de TV: “Isso me marcou muito”. Ele fala que, além de realizar um trabalho prático, teve a oportunidade de contar um fato jornalisticamente importante, prestando, ainda, uma homenagem. Conseguiu entrevistar 10 pessoas, que ajudaram a contar a história de Santiago, tanto fora do contexto profissional quanto dentro, até o momento do acidente. E mostrou no documentário algumas consequências do caso para o jornalismo, com mudanças na cobertura de manifestações a partir daquilo.


“A apresentação do TCC, em si, foi um momento muito marcante porque estava lá a filha dele [Santiago Andrade], a esposa, os colegas da Band. E é fundamental no jornalismo ter sempre esse olhar, um olhar humano. Nunca contar a pessoa como só mais um número, como só mais uma vítima, como mais uma morte. É encontrar quem é aquela pessoa, a história dela, a origem dela, quais eram os sonhos, quais eram os objetivos.” (Aldir Cony)


Aldir Cony também contou que seu primeiro estágio foi no site do jornalista Sidney Rezende, uma redação pequena. Questionado se considerava melhor começar em um ambiente pequeno ou logo visar um grande veículo, o editor diz que é bom aproveitar a oportunidade que aparecer. Para ele, um lugar pequeno tem muitas vantagens, como conseguir ter experiências em diferentes atuações: “Só em um ambiente menor assim, eu teria a oportunidade de fazer tanta coisa. Porque numa emissora grande, é como se fosse uma linha de montagem, [cada pessoa é responsável por uma função]. Quando você tá num veículo menor, você faz um pouco de tudo”. O jornalista também destaca que cobriu o festival Rock in Rio e o carnaval da Sapucaí ainda como estagiário, afirmando que apenas em um veículo menor isso seria possível.


Sobre sua função atual, editor de texto, explicou um pouco como é e a diferenciou de outras. Ele disse que o cargo exige cuidado com o trabalho do repórter, que, por sua vez, foi pensado pelo produtor. “Cabe ao editor de texto direcionar o repórter sobre o que o jornal quer”, afirmou o jornalista. O editor, então, pega a matéria gravada e a ajusta. “O trabalho do editor de texto é como se fosse o diretor da matéria”, Aldir disse que essa foi uma comparação que William Bonner fez durante uma palestra para funcionários da Globo, e complementou: “Então, pensa como um diretor de um filme, né. Aquela pessoa que vai coordenar o trabalho. Ele não vai aparecer no filme, mas ele é aquela pessoa que vai dar as coordenadas”. Assim, ele vai encaminhando a matéria junto com todos os outros profissionais. Quando o jornal vai ao ar, ele continua na redação, porque pode ser que alguma coisa aconteça e mude o rumo do que foi preparado.


“[O editor de texto] tem que ser muito criterioso com a informação. Você tem que revisar tudo dez vezes, porque você é a ponta final de todo um processo. Quem dá essa palavra final, a última pessoa que vê aquele trabalho é o editor de texto. Então, ele tem essa responsabilidade de pôr no ar o trabalho de tanta gente.” (Aldir Cony)


Nos minutos finais da entrevista, o editor de texto falou sobre o projeto que criou, em agosto de 2021, em conjunto com outras três editoras da GloboNews: o Jornada Polis. E comparou as motivações do projeto com o próprio ECOnversa: “É o mesmo objetivo de vocês: uma ponte entre o ambiente da faculdade e o mercado de trabalho”. No perfil, são postadas dicas de telejornalismo, tanto de texto quanto de apuração e busca de fontes. Também acontecem lives com jornalistas da GloboNews e de outras emissoras. Além disso, eles oferecem cursos. De acordo com Aldir, o espaço se propõe a dar uma jornada de aprendizado, compartilhando todos os momentos que levam um material ao ar, da produção à edição. “Tem muita troca. A gente aprende [...] com a galera mais jovem, ainda mais num ambiente digital". "A gente tem que se ajudar”, afirma o jornalista e, com um emblemático verso da música Principia de Emicida, complementa: “Tudo que nóiz tem é nóiz”.



Ficou interessado? Assista à entrevista na íntegra: https://www.instagram.com/p/CaALOMYFFjX/.

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