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As Olimpíadas e o descaso da mídia tradicional com esportes alternativos

Daniel Fernandes


A história de Laura Pigossi e Luisa Stefani foi, sem dúvidas, a mais improvável entre os atletas olímpicos brasileiros em Tóquio. Afinal, faltando uma semana para o início dos Jogos, a dupla sequer havia garantido uma vaga, além de estar longe das primeiras colocações no ranking de Tênis de Quadra. Contudo, as meninas mandaram várias favoritas para casa e, no fim, foram premiadas com a medalha de bronze, a maior conquista do Brasil na história da modalidade.


A campanha foi espetacular, mas não o suficiente para chamar a atenção da mídia brasileira. O grupo Globo, dono dos direitos televisivos das Olimpíadas, decidiu transmitir a dupla apenas na fase semifinal. A estreia chegou a aparecer na grade do SporTV, mas foi ignorada sem maiores explicações. A situação obrigou Laura e Luisa a divulgarem um link do Japão, pedindo para o público mudar o VPN do computador. Em uma situação curiosa, a BandSports, que também chegou a transmitir alguns esportes dos Jogos Olímpicos, tentou “piratear” o sinal de uma partida, mas foi derrubado rapidamente.


(Imagem: Twitter TV Globo)


No Brasil, por mais que, nas Olimpíadas, vários esportes sejam transmitidos, no restante do ano, é raro ver modalidades alternativas sendo destaque na mídia tradicional. Nos canais do grupo Globo, o futebol ocupa a grande maioria da grade horária. O destaque é justo, já que se trata do esporte mais popular do país, mas não seria má ideia trazer um pouco de equilíbrio para a TV. Vez ou outra, torneios de vôlei, basquete ou futebol de areia/americano são transmitidos, além das lutas terem um canal próprio (Combate), mas são exceções.


Nas Olimpíadas de Tóquio, 46 modalidades foram disputadas ao todos, sendo que 35 delas tiveram participantes brasileiros. A falta de visibilidade e ajuda financeira impede que nossos representantes consigam atingir o potencial máximo. O governo, claro, tem uma grande culpa, por conta dos valores extremamente baixos no programa de ajuda a atletas olímpicos (que alguns sequer recebem). A imagem de Darlan Romani (arremesso de peso) treinando em um terreno baldio chamou a atenção. Mesmo assim, chega a ser um pouco hipócrita a forma como a mídia tradicional valoriza os esportes nos Jogos Olímpicos, já que, no restante do ano, a maioria deles cai no esquecimento.


Um grande exemplo de como a aposta em esportes alternativos pode dar excelentes retornos, tanto para a mídia quanto para o esporte em questão, está no skate. A modalidade deu ao Brasil as primeiras medalhas em Tóquio e chamou a atenção do Brasil inteiro, principalmente com o fenômeno de Rayssa Leal, a “fadinha”. Assim, no final do mês de agosto, o SporTV decidiu transmitir a primeira etapa da Liga Mundial de Skate pós-Olimpíadas. O resultado foi mais uma atuação espetacular de Rayssa, que venceu o torneio, e um engajamento impressionante nas redes sociais.


Vale ressaltar também que, se os esportes olímpicos em geral são descartados pela mídia, os esportes paralímpicos sofrem ainda mais para ter visibilidade. Não é exagero dizer que, durante os Jogos, esses atletas têm sua única chance de ter algum destaque. Mesmo assim, a diferença de tratamento para os Jogos Olímpicos que terminaram no mês passado é significativa e sofreu muitas críticas do público. Para se ter uma ideia, a Globo sequer transmitiu a abertura do evento ao vivo, e praticamente não liberou espaços na grade horária para as modalidades (no máximo, mostram os melhores momentos do dia durante a madrugada ou acompanham alguns minutos ao vivo durante os intervalos).


Portanto, qual seria a solução? De fato, não tem como exigir que dezenas de esportes passem a ser destacados de uma hora para outra, mas é preciso começar de alguma forma. Os canais do SporTV, por exemplo, gastam horas de sua programação diária (de madrugada, mas também durante o dia) transmitindo VT’s de partidas de futebol que já ocorreram. Nesse sentido, há espaço para buscar uma maior variedade de modalidades no canal. Com o avanço da internet, transmissões online também passam a ser uma alternativa. E claro, o público precisa abraçar a ideia e dar a audiência que os atletas merecem. Com um bom planejamento, o Brasil pode chegar mais preparado do que nunca para as Olimpíadas de 2024, em todos os sentidos.


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