Por Marcela Elis
A Copa do Mundo Feminina de 2023 bateu recorde de audiência com 63,2 milhões de espectadores somente nas transmissões da TV Globo e do Sportv, segundo dados do Ibope. No entanto, dias após a final, com vitória da seleção espanhola, a principal notícia em circulação eram as diversas denúncias de assédio envolvendo o presidente da Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales. Esses fatos, juntos, resumem o momento do futebol feminino: ele cresce mais a cada dia, mas ainda tem que enfrentar diversos obstáculos resultados do machismo estrutural que ainda acredita que futebol não é coisa de mulher.
O futebol é um esporte dominado por homens. Este é um fato visível nos números, estádios, bares, transmissões, e até mesmo dentro do jornalismo esportivo. No podcast Flow, o rapper Young Mascka disse: “O futebol feminino não vai tanto para frente porque os homens não apoiam. Mas tem mais mulher que homem no Brasil. Vocês não precisam que a gente apoie. Vocês são maioria”. Este é um dos muitos argumentos utilizados para ignorar o problema de visibilidade das mulheres no futebol. Vale lembrar, que a prática de futebol por mulheres era irregular até 1983, isso porque o esporte era visto como algo que quebrava os padrões de feminilidade e sutileza impostos às mulheres até então.
Para Lídia Ramires, professora de jornalismo da Universidade Federal de Alagoas, em sua pesquisa sobre o mercado de jornalismo esportivo, a prática de esportes é estimulada para meninos, com destaque para competições e premiações. "Enquanto isso, para as meninas, as atividades destacadas são mais ligadas ao feminino, à arte e ao belo. Não à toa, as escolinhas de futebol são majoritariamente ocupadas por garotos, enquanto as classes de balé recebem as garotas.”
Assim, as mulheres que desejam trabalhar com jornalismo esportivo têm um grande caminho a percorrer, já que competem com homens que são estimulados desde pequenos a seguir este tipo de carreira. Uma pesquisa da ABRAJI (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) feita em 2017, observou que nas áreas de esporte, educação e tecnologia, as editorias são dominadas por homens. Já as mulheres são as principais editoras nas áreas de turismo, moda e gastronomia. Na visão de Lídia Ramires, esse quadro sugere uma certa divisão do trabalho jornalístico conforme os antigos estereótipos.
Para a Copa Feminina de 2023, a Fifa (Federação Internacional de Futebol) investiu cerca de 110 milhões de dólares, e o presidente da instituição, Gianni Infantino, afirmou que pretende igualar as competições masculinas e femininas até 2027. Uma pesquisa do Ibope Repucom mostra que o interesse pelo futebol feminino no Brasil cresceu em 34% desde 2018. Somente entre as mulheres, o crescimento foi de 26% no mesmo período, alcançando 46,7 milhões de interessadas pelo esporte.
Para a diretora técnica do Museu do Futebol, Marília Bonas, em entrevista a CartaCapital, esta edição da Copa Feminina garantiu também uma maior movimentação da publicidade em torno do esporte. "O aporte de marcas conhecidas no mercado da bola fez com que as mulheres deixassem de ser chamadas somente como o cumprimento de uma agenda social, pela igualdade de gênero, e passassem a discutir questões técnicas da profissão", comentou. "O futebol é um esporte que depende da torcida, do alcance, para as pessoas acompanharem. Isso ajuda a ampliar a discussão da qualidade das atletas e incentivo em muitas partes do mundo.”
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