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Com diversidade em pauta, repórter fala sobre o que foi feito pela principal redação do país

Eduarda Knack


O mundo está mudando e o jornalismo também precisa mudar. Não é de hoje que diversidade nas redações entra em pauta nas discussões dos principais jornais, porém somente nos últimos anos o assunto tem recebido a devida atenção. Buscando divulgar mais essa questão e o que se tem feito para mudar esse quadro nas redações, Carolina de Assis - na época era correspondente para o Knight Center for Journalism in the America - produziu a reportagem Com editoria de diversidade, Folha amplia variedade de vozes.


De forma simples e direta, a autora discute a posse da jornalista Hannah Storm como nova diretora e CEO da Ethical Journalism Networking (Rede de Jornalismo Ético) em abril de 2019. Segundo a jornalista, para existir um “jornalismo verdadeiramente ético”, é necessário ter igualdade de gênero nas redações. A busca por esse equilíbrio de gênero também vem sendo trabalhada nas redações de grandes veículos de notícias ao redor do mundo como o jornal norte-americano The New York Times, o espanhol El País e a rede britânica de jornalismo BBC.


No Brasil, não foi diferente. Transformar o ambiente de trabalho num espaço mais igualitário entre homens e mulheres tem sido o objetivo de vários jornais, entre eles, a Folha de São Paulo. Entretanto, o jornal, quis ampliar o desafio. Não somente a diversidade de gênero foi discutida, mas os preconceitos relativos à “origem étnica, classe social, raça, cor, crença religiosa, deficiência, orientação sexual, idade e inclinação política”. Tendo isso em vista, a Folha criou o cargo de editora de ‘Diversidade’ em maio de 2019.


Mas de onde surgiu a ideia de criar essa editoria? De acordo com uma entrevista que a repórter fez com o diretor de redação da Folha, Sérgio Dávila, ela surgiu de uma análise do perfil dos leitores do jornal no final de 2017. A pesquisa apontou uma queda brusca de leitoras e, diante disso, viu-se a necessidade de criar um cargo que cuidasse de questões de gênero. De fato, ter um jornalista dedicado à diversidade demonstra um grande passo para a mudança.

Para informar o leitor sobre quem é o responsável do cargo, explicar melhor as suas funções e de mostrar seus objetivos, Carolina fez uma entrevista com o diretor da redação, Sérgio Dávila, e com a própria editora de Diversidade do jornal, a jornalista Paula Cesarino Costa. Antes de assumir a posição, Paula, que têm anos de experiência na Folha, foi ombudsman do jornal entre 2016 e 2019. Mas porque não “ombudswoman”? Apesar da palavra parecer ter origem inglesa por terminar com man, que seria homem em inglês, na verdade ela é sueca e é utilizada para ambos os gêneros. Há jornais estrangeiros que adotam essa variável, mas, no caso, a Folha decidiu adotar a construção original da palavra.


Durante seus anos como ombudsman, Paula percebeu diversos pontos que precisavam de mudanças. “Em várias colunas e nas críticas internas diárias que eu fazia para a redação, apontei um pouco alguns momentos em que eu achei que faltou diversidade, pela avaliação de que isso é cada vez mais fundamental para os dias de hoje e para o jornalismo de hoje”. Realmente, há ainda uma grande desigualdade nas redações e muitas questões a serem levantadas para que isso mude. Segundo a jornalista da Folha, a principal delas não seria nem de gênero, mas racial. Na época em que a reportagem foi publicada a população negra do país correspondia a 55,8%, de acordo com um levantamento feito pelo IBGE, e ainda assim era minoria no ambiente das redações, como afirma Paula: “As minorias [étnico-raciais] seguem sendo minorias na redação da Folha e isso eu não preciso do censo para dizer, basta andar pela redação”.

Para finalizar a reportagem, Carolina discutiu a bolha em que vivemos e como furá-la para que assim possamos ter um leque maior de pontos de vista. Nas redações, é necessário não somente diversificar as fontes das matérias, como o lugar de fala do jornalista que irá escrevê-las. Só assim conseguiremos entender a realidade. Eu, como mulher e como jornalista vejo o quão importante foi essa reportagem. É preciso sim expor essa realidade das redações, para que, assim, tenhamos um ambiente mais igualitário e diverso. Vale lembrar que não é apenas um problema de igualdade de gênero, é um leque muito maior, é também uma questão de raça, cor, classe social e outras minorias. A autora conseguiu atingir seu objetivo, escrevendo de forma direta e fluida, o que desperta mais a vontade de ler a reportagem e de discutir sobre o assunto. Recomendo a todos essa leitura, por sua visão mais inclusiva, reflexiva e diversa.


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