Manual de Telejornalismo de Luís Carlos Bittencourt dá dicas de como ser um bom profissional e conta curiosidades da produção
Alan Souza
“Jornalismo é, sobretudo, uma profissão de caráter social”, define Luís Carlos Bittencourt. Quando se fala em edições para a televisão, o exercício dessa profissão consegue chegar a muito mais pessoas. No entanto, para levar notícias à tela de milhões de brasileiros, o processo é complexo e cheio de regras. É para explicar tudo isso que o autor da citação acima criou o Manual de Telejornalismo, um verdadeiro guia destinado aos ingressantes ou para quem já trabalha na área.
(O Jornal Nacional, da Globo, é uma das principais referências de jornalismo para televisão/Imagem: Reprodução)
Diferentemente do periódico comprado na banca ou dos programas feitos para o rádio, o telejornalismo tem uma característica que o torna único, a junção da imagem e do som. Mas quando toda essa magia é transmitida, “o telespectador, confortável em sua poltrona favorita, não percebe a complexidade da produção de um telejornal”. Na verdade, ensinar como funciona esse processo para o público não é a proposta do livro, mas vale ressaltar, até porque é para essas pessoas que o produto é feito.
Logo no começo, Luís Carlos Bittencourt já ressalta que não é detentor da verdade. Ele, porém, é um grande colecionador de feitos para o campo da comunicação. Foi aluno e professor da ECO, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, criador da CPM (Central de Produção em Multimídia) da Escola e um dos pioneiros quando o assunto é notícias audiovisuais para a web. Além disso, foi repórter, editor e diretor de telejornais em emissoras como TV Globo e na TV Educativa (atual Rede Brasil). Manual de Telejornalismo, de fato, não deve ser seguido à risca, mas para estudantes que sequer falaram em frente à uma câmera, pode funcionar como um alívio devido às valiosas dicas para eles direcionadas.
Um manual, geralmente, contém muitas palavras que expressam ordem e indicam o próximo passo. Esse estilo é muito utilizado em cartilhas de móveis novos, que precisam de uma perfeita “montagem” para serem realmente funcionais. No entanto, a trilha que Bittencourt preferiu caminhar não é essa. Ele orienta como estruturar uma reportagem ou a pauta de cada edição, encorajando os repórteres e todos os integrantes da produção a sempre tentarem produzir o melhor material que puderem, porque a qualidade do trabalho é apenas conquistada na prática.
Um dos ingredientes principais para um telejornal ser bem produzido é a tecnologia. Ela dá todo o brilho na execução e exibição do programa. Da disposição dos satélites até a organização das câmeras, passando por toda a física que envolve a tela da TV, o autor gosta de explanar todas essas curiosidades acerca da produção. Há alguns jargões ao longo da leitura e nomes que podem ser difíceis para quem acaba de chegar nesse mundo, porém Luís Carlos é bem prestativo explicando essas palavras mais específicas, além das funcionalidades dos aparelhos.
Apesar de todo aparato tecnológico, o escritor é enfático ao destacar que o telejornalismo é feito por gente. O trabalho do repórter na obra, por exemplo, é sempre valorizado - uma vez que é por meio dele que a notícia chegará à maior parte da população. Outro profissional que é imprescindível é o cameraman, por ele a imagem será bem gravada e toda ilustração que o meio permite pode ser feita.
Um dos pontos mais altos do livro são os exemplos tangíveis que são descritos. Situações fictícias, como a do surto de meningite na Baixada Fluminense, são criadas com o objetivo do futuro repórter poder espelhar suas atitudes diante das muitas dificuldades que a vida profissional pode oferecer. O autor dá dicas até mesmo dos melhores pontos de enquadramento do jornalista ou de como devem ser os movimentos da câmera em gravações externas. Sobre o manual, a primeira diretora da GloboNews, Alice-Maria Reiniger diz: “Aprender no livro o que, antes, se descobria apenas [...] no corre-corre da redação, vai facilitar, sem dúvida, a vida de novos telejornalistas”. Ler Manual de Telejornalismo é um adiantamento do futuro dos profissionais que escolhem “fazer TV”.
Durante a leitura, é possível perceber o uso de nomes de tecnologias ou técnicas antigas - como bolas de isopor simulando planetas, o que atualmente pode ser feito com design gráfico. Mas se tem uma coisa que Luís Carlos Bittencourt ensina é a se adaptar a tudo que seja novo. E isso faz total sentido: o jornalismo não se desgasta, porque sempre se renova. Se Manual de Telejornalismo estiver fora de moda é porque sua publicação ocorreu em 1993. Mas guarda algumas riquezas que não serão deixadas para trás nem tão cedo.