Em uma missão de vida, a jornalista Bria McNeal, do Esquire, compareceu a um dos shows da Renaissance World Tour com uma simples questão a ser resolvida: “Por que os fãs amam a Beyoncé?”
Por Pedro Vinhas
“Vinte anos depois, Beyoncé continua sendo um mistério para mim”, diz Bria McNeal, relembrando seu primeiro encontro com a cantora, quando tinha 6 anos. O momento inesquecível aconteceu no banco de trás do carro de seus pais, pouco depois do primeiro lançamento da artista, o álbum Dangerously In Love. Duas décadas depois, o jornalista realiza mais um sonho e comparece ao show da estrela em Nova Jersey.
Segundo ele, o ingresso acompanhava uma missão de 20 anos, ou melhor, uma dúvida: “O que eu aprenderia vendo ela ao vivo?” Para Bria, com certeza algo de especial viria cantando e dançando as músicas durante o show, além de confraternizar com a beyhive – como o fandom se nomeia. O jornalista começa, então, uma jornada de descobrimento em meio ao público. Ele encontra um homem chamado Zahir, vestindo um top de lantejoulas, que diz que seu apego à Beyoncé vem de“sua negritude. "Ela é tão conectada a sua feminilidade e a sua voz”. E McNeal complementa: “Aos 41 anos, Beyoncé ainda consegue cantar como se tivesse um anjo preso na garganta.”
Andando mais um pouco, Bria conhece o autointitulado superfã Rickey Mile, que dispara: “Ela é atemporal”. Mile comenta que a cantora “sempre entrega um bom show”, independente de sua era artística ou se há algo ocorrendo em sua vida pessoal, e é exatamente essa disposição que a destaca de demais artistas. Bria concorda e levanta um ponto importante: a era Renaissance foi criada como uma homenagem para o tio gay Johnny, que introduziu a cantora à música house. É possível perceber nos depoimentos que a conexão entre os fãs e Beyoncé se dá pelo sentimento; eles sentem e percebem que Bey os entende e é capaz de representá-los como uma verdadeira aliada do movimento LGBT+. Bria, inclusive, compara o show a “uma gigante festa queer, cheia de referências a ícones drags” e continua dizendo que “a atmosfera é de uma reunião”. Essa sensação de proximidade é construída durante todas as três horas de show – uma maratona, em suas palavras. “Sabe aquele momento em uma festa de família quando você não reconhece ninguém, mas sente uma conexão? A Renaissance é assim. Todos são estranhos, mas continuam sendo primos”, compara.
Além da celebração à comunidade queer, a RWT inclui a resistência do movimento negro como uma bandeira a ser exaltada, tendo a Beyoncé uma representante mundialmente reconhecida pelos seus projetos voltados à comunidade preta. Em um dado momento do show, Bria ouve uma menina chorar dizendo que Formation a quebrou por alguma razão. "Eu continuei chorando pelo resto do show”, diz o misto de jornalista e fã. A faixa em questão faz parte do álbum Lemonade e conta a história da luta de pessoas pretas no sul dos EUA, em pleno apartheid. A performance conta, ainda, com a participação de Blue, primogênita da Queen Bee e adotada pelo fã clube como mascote.
Apesar de uma noite extremamente emocionante, Bria acha espaço para mais encontro, esse que parece ser o mais representativo de todos. O jornalista descreve um homem chamado Herby, e pergunta ao fã o motivo dele amar a Beyoncé, e a resposta surpreende: “Ela representa a dicotomia entre ser humano com limites, mas faz parecer ilimitada. Isso é inspirador para mim”.
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