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“Inacreditável”: A surpreendente história da série indicada ao Emmy

Milene Gabriela


“Inacreditável” é uma minissérie de oito episódios produzida pela Netflix, escrita por dois jornalistas investigativos, T. Christian Miller e Ken Armstrong. Ambos são repórteres do ProPublica, uma organização sem fins lucrativos sediada em Nova York, que faz jornalismo investigativo independente e de interesse público. Ken já trabalhou para o Los Angeles Times e atualmente ensina jornalismo investigativo na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Trabalhou no Projeto Marshall, uma empresa jornalística online e sem fins lucrativos especializada em justiça criminal nos Estados Unidos e na Chicago Tribune, onde contribuiu para a suspensão das execuções por pena de morte.


A minissérie também deu origem ao livro falsa acusação – Uma história verdadeira. Vencedora do Pulitzer de jornalismo investigativo, é uma produção baseada em uma história real que ocorreu em 2008, relatando a história de Marie Adler e das detetives do Colorado que caçam um estuprador em série. É uma produção cheia de reviravoltas, dúvidas, estigmas, mentiras e acima de tudo, um profundo desejo de justiça.

(Imagem da personagem Marie Adler)


Marie Adler (Kaitlyn Dever) foi à polícia denunciar que um homem mascarado entrou em seu apartamento e a estuprou. Depois de alguns dias, a polícia, sua ex-mãe adotiva e algumas pessoas próximas começaram a desconfiar da história. Os policiais rapidamente mudaram o rumo da investigação e passaram a interrogar a adolescente, que passou de vítima à suspeita. Confrontada com as inconsistências do seu relato e as dúvidas de todos, ela voltou atrás e disse que tinha mentido, que tudo não havia passado de uma tentativa de chamar atenção. A polícia a acusou de ter feito uma denúncia falsa e invalidou o seu depoimento, o que levou Marie a ser processada por falso testemunho, taxada de mentirosa e passasse a ser detestada por todos.


Dois anos depois, Karen Durval (Merritt Wever), investigadora do FBI, foi convocada para investigar um caso igual ao de Marie, e, analisando o caso, a detetive descobriu que outra detetive, Grace Rasmussen (Toni Collete) estava investigando um crime semelhante. As duas detetives se dedicam a uma intensa investigação e acabam relacionando esse criminoso a muitos outros casos de violência sexual ainda não solucionados nos Estados Unidos. Chegando na residência do suspeito, Grace foi surpreendida com mais um suspeito. Assim, levando em conta que eram dois suspeitos, foram coletados provas para identificar o criminoso.


Com um mandado de busca e apreensão, os policiais encontraram muitas evidências confirmando que um dos suspeitos era realmente o estuprador, que foi declarado culpado de 28 casos de estupros e condenado à pena máxima de 327 anos. Três anos depois de ter sofrido o estupro, Marie finalmente teve justiça e provou que estava falando a verdade. Ela processou a cidade por tê-la acusado de falso testemunho e desembolsou 150 mil dólares.


A minissérie aborda o desespero da vítima de violência sexual que costuma ser interrogada com desconfiança pelos policiais, com olhares e palavras de acusação, ao contrário da postura profissional exigida. Perguntas como: “que roupa você estava usando?”, “o que estava fazendo na rua a essa hora?”, “por qual motivo abriu a porta?”, “qual a quantidade de bebidas alcoólicas e substâncias entorpecentes que você tinha ingerido?” e “por que você está querendo chamar atenção?” são frequentemente usadas por autoridades investigativas e causam grande constrangimentos às vítimas. A única pergunta que falta nessa lista é: até quando isso vai acontecer? A maneira como as autoridades responsáveis investigam esses crimes, com falta de profissionalismo, acaba prejudicando o andamento da investigação e, até mesmo, permitindo que os criminosos continuem em liberdade e cometendo mais crimes. O relato de uma investigação só dá certo em virtude de duas detetives que acreditam nas vítimas, dando voz a elas e não desistindo de fazer justiça.


No Brasil, a cada 11 minutos uma mulher é estuprada, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgados em 2015. A violência de gênero atinge centenas de mulheres, diariamente diversas formas: assédio, violência doméstica, feminicídio, cultura do estupro, machismo, entre outros. Ela perpetua-se na sociedade e constrói um mundo cada vez mais perigoso para o gênero feminino. Muitos casos como de Marie Adler acontecem no nosso país, no entanto, não são todos que são solucionados.



(Crédito: Lucas Rodrigues / Catraca Livre)


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