Semayat Oliveira é a jornalista por trás do podcast Mano a Mano
Mariana Coutinho
‘Salve, rapa! Salve, massa!’. Estreando em 2021, o podcast original e exclusivo do Spotify –em parceria com a MugShot, Boogie Naipe e Agência GANA– faz uso indiscriminado do que há de fundamental numa democracia plena: o diálogo. O paulista Mano Brown, provavelmente o maior rapper brasileiro, coloca-se na posição inédita de apresentador e não hesita em promover debates, por vezes, polêmicos, sensíveis, desconfortáveis, mas, acima de tudo, relevantes. Não só o rigor com a veracidade dos fatos, como a fluidez das entrevistas, são consequências da co-apresentação de Semayat Oliveira, jornalista por formação, que se encarrega de prestar o papel de consultora jornalística durante os episódios.
De Lula a Jojo Toddynho, passando por Fernando Holiday e Angela
Davis, o Mano a Mano recebe diferentes personalidades para conversas sinceras
de duas horas. Após um período recluso durante a pandemia de coronavírus, a
primeira temporada conta com o retorno do vocalista do grupo Racionais à cena,
com provocações sobre as mazelas brasileiras e o povo que as vive
cotidianamente.
O podcast estreou com a presença de Karol Conká, cantora e ex-
participante do Big Brother Brasil, reality em que sofreu intensos ataques a seu
comportamento, durante sua participação, e forte rejeição, após sua saída. Logo
no episódio inaugural, lançado em 26 de agosto de 2021, nota-se uma
convicção na fala, cuja eloquência se permeia ao longo das três temporadas,
posto o embasamento prévio dos entrevistadores, o qual permite imersão no
pensamento do entrevistado, que passa a responder às indagações de modo
verdadeiro consigo e com quem o ouve.
Em um dos episódios da segunda temporada, Brown recebe os jornalistas
investigativos Cecília Olliveira e André Caramante para debater segurança
pública. “Nós nos tornamos jornalistas porque a gente tinha raiva, a gente tinha
indignação”, diz Caramante. Pauta difícil e complexa, repleta de nuances, é
conduzida com fluência e clareza pelos apresentadores. O ouvinte consegue
compreender a relevância do jornalismo na sociedade quando os entrevistados
denunciam os interesses sórdidos, normalmente velados, de quem detém
privilégios histórico-sociais e, não menos importante, poder.
Comunicador nato, Mano Brown é, inegavelmente, um dos fatores para o
programa ter sido o segundo mais escutado da plataforma logo em seu ano de
estreia. Além da articulação fácil do apresentador, o roteiro bem estruturado e as
informações trazidas à luz do debate são pontos-chave para tamanha
repercussão, e o crédito a tais feitos deve ser atribuído à co-apresentadora
Semayat Oliveira. “Eu saí da zona de conforto. Eu não tenho experiência com
esse tipo de trabalho. Fazendo, você entende como é difícil, para um jornalista,
ou repórter, ter que vincular notícia, abordar um convidado e tirar dele a
verdade, tirar o que você quer que as pessoas saibam. Isso é uma ciência
também, não é simples.", assume Mano na coletiva de estreia, promovida pelo
Spotify.
Nascida no Jardim Miriam, zona sul de São Paulo, Semayat é a terceira
voz na mesa de discussão, além de Mano Brown e o entrevistado da vez. Tendo
já realizado trabalhos como repórter, analista e coordenadora de comunicação, a
jornalista é co-fundadora e diretora de conteúdo do projeto Nós Mulheres da
Periferia, redação que visa projetar o olhar de mulheres periféricas a respeito de
temas atuais.
Jornalistas independentes vêm sendo cada vez mais presentes em grandes
produções. A assessoria de Semayat, ao longo das entrevistas, contextualiza
assuntos e ajuda no encaminhamento das perguntas do podcast. A profissão que,
tantas vezes, é vista como dispensável, mostra-se, com a obra de cunho
jornalístico de Mano Brown, como um alicerce democrático e popular,
consistente e instruído pelos saberes acadêmicos e práticos. O jornalismo é
fundamental para conter a contenção de ideias.
Episódios inéditos do Mano a Mano vão ao ar às quintas-feiras,
exclusivamente no Spotify.
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