Marcelo Faria
Em entrevista coletiva após a desclassificação do Palmeiras na Copa do Brasil, ao ser perguntado sobre o comportamento extracampo de um dos seus atletas, o técnico alviverde Abel Ferreira respondeu: “O jogador brasileiro, tecnicamente, é de longe o melhor, mas mentalmente tem muito o que evoluir, a nível de educação e formação enquanto homem”.
Abel Ferreira durante entrevista coletiva após a desclassificação para o São Paulo (Imagem: TV Palmeiras/FAM)
No dia seguinte, insatisfeitos com a postura do treinador, os jornalistas Mauro Cezar Pereira e Luís Augusto Simon fizeram críticas incisivas: em programa na Rádio Jovem Pan, Mauro opinou: “Acho que é visão de colonizador. [...] Eles falam como se estivéssemos em 1500 novamente”. Luís Augusto, em publicação no seu blog, foi ainda mais duro, comparando Abel a Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, ambos padres jesuítas portugueses do século XVI.
Menos de um dia depois, o Palmeiras emitiu uma nota prometendo entrar na Justiça contra os jornalistas sob o argumento de que estes estariam deturpando uma fala do técnico a fim de difamá-lo, além de estarem “utilizando-se de ofensas pessoais em busca de audiência”.
Esta não é, no entanto, uma situação semelhante à enfrentada pelo Flamengo em 2019, quando o jornalista Rodrigo Viga, da Jovem Pan, acusou o clube de praticar lavagem de dinheiro por meio de um fundo paralelo sem registros em vias legais. Na ocasião, Rodrigo foi processado pelo clube e condenado pela 3ª Câmara Cível do Rio de Janeiro a pagar vinte mil reais por danos morais.
Trata-se, de maneira simples, de mais uma das milhares tentativas de se guerrear com a imprensa futebolística. A diferença se dá, entretanto, no fato de que tais tentativas costumam vir dos jogadores, que geralmente fazem ataques diretos. Um exemplo pôde ser visto após a última rodada do Campeonato Brasileiro de 2020, quando os atletas Gabriel Barbosa e Diego Ribas, do Flamengo, tomaram alguns minutos de uma transmissão ao vivo no Instagram para atacar os jornalistas Diogo Dantas (O Globo), Venê Casagrande (SBT) e André Rizek (SporTV).
Diego e Gabriel Barbosa em vídeo ao vivo no Instagram após o final do Brasileirão de 2020 (Imagem: Instagram/Gabriel Barbosa)
Os ocorridos com Mauro Cezar Pereira, Luís Augusto Simon e diversos outros periodistas apenas exemplificam a facilidade de se criar uma narrativa na qual a imprensa é a inimiga. Aos olhos de torcedores apaixonados, qualquer crítica ou notícia negativa é uma tentativa de criar uma crise no clube. Com a perseguição à mídia, também em alta fora do futebol, e num mundo ainda muito perigoso para jornalistas, a atitude do corpo jurídico palmeirense apenas ajuda a perpetuar essa cultura.
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