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Nadando contra a corrente: A Verdade se torna um jornal quinzenal

Atualizado: 15 de jun. de 2022

Gabriel Puga


Brigadistas vendem exemplares do Jornal A Verdade em trens do Rio de Janeiro em 2018. Foto: JAV/RJ


Enquanto muitos jornais impressos chegam ao fim, um periódico alternativo do Rio de Janeiro vai na contramão da crise: A Verdade, publicação voltada para temas da política nacional e internacional, por um viés marxista, deixou de ser mensal e se tornou quinzenal.


O Jornal A Verdade é um veículo construído por movimentos sociais, principalmente o Movimento Luta de Classes (MLC), o Movimento de Mulheres Olga Benário, o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), o Movimento Negro Perifa Zumbi e a União da Juventude Rebelião. Militantes do movimento sindical e de trabalhadores, estudantil, de mulheres, antirracista e de luta pelas reformas urbana e agrária engajam-se cotidianamente na construção do jornal.


Ligados a esses movimentos, dois partidos utilizam o jornal para expressar suas posições políticas: o Partido Comunista Revolucionário (PCR), fundado em 1966, e a Unidade Popular Pelo Socialismo (UP), que conquistou a legalização em 2019.


Voluntários atuam em todas as partes do processo: desde a escrita das matérias até a venda dos exemplares. Aos sábados, pessoas de todo o país participam de brigadas nacionais de vendas do jornal, que custa dois reais. Essas brigadas são realizadas prioritariamente nos bairros pobres, no transporte público, nas praças, feiras e manifestações.


Os editores de A Verdade avaliaram que, com o acirramento da conjuntura política do país e o avanço do que consideram práticas fascistas no país, era importante que o jornal estivesse cada vez mais circulando nas ruas. A partir dessa avaliação, iniciaram os esforços para a transformação de A Verdade em quinzenal. O documento que marca a criação do jornal já expressa o desejo de que, um dia, A Verdade se torne diário.


A decisão de aumentar a frequência do jornal gera dúvidas na mente do cidadão médio. Em depoimento exclusivo para o Pitacos!, Igor Barradas, membro da redação do A Verdade no Rio de Janeiro, conta que muitas pessoas estranham o fato, uma vez que muito se fala sobre o fim do jornal impresso decretado pela era digital”.


Igor explica, no entanto, que uma coisa não anula a outra. O jornal decidiu também investir em um novo projeto gráfico para o seu site, com visual que, em comparação com o anterior, facilita a leitura. A Redação Nacional do Jornal A Verdade promete que em junho será lançado um aplicativo para dispositivos móveis.


Em editorial, o jornal reconhece a ampliação da publicação impressa enquanto uma importante vitória e ressalta que não é fácil para as mídias independentes sobreviverem em meio ao sistema dominante. “Pode parecer pouco para alguns. Mas não é. Enquanto jornais da burguesia deixam de circular e passam a existir somente na internet, A Verdade lança agora duas edições impressas por mês no Brasil. Ademais, A Verdade é um jornal a serviço da classe explorada e oprimida, a imensa classe operária, as massas trabalhadoras. Suas páginas não são vendidas às grandes corporações internacionais e nacionais nem defendem os interesses do capital financeiro, das mineradoras ou do agronegócio. É um jornal dos trabalhadores que luta pela emancipação dos pobres, pelos direitos das mulheres, pela justiça social, democracia popular e socialismo”, diz o texto.



O que diferencia o Jornal A Verdade das outras mídias?


Da Rocinha aos trens da Central do Brasil, da capital de São Paulo até Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco, militantes apresentam o jornal por meio de agitações políticas e conversas sobre os principais temas da edição, que vendem a dois reais. Nos últimos tempos, mesmo frente ao cenário pandêmico, as tiragens do periódico apenas aumentaram. Na primeira edição, em 1999, eram 1500 exemplares distribuídos por cinco estados. Hoje, são 18500 exemplares que circulam por 20 estados.


O segredo para o crescimento das vendas das edições impressas do A Verdade parece residir justamente no sentimento de coletividade que todos os envolvidos na sua produção carregam consigo.Eles enxergam o jornal como um meio para impulsionar a luta por um mundo mais justo.


Nas palavras de Rodrigo Ferreira “Stark”, brigadista do periódico e estudante de Jornalismo da Escola de Comunicação da UFRJ, uma das características marcantas do jornal é ser construído por gente comum. “Gente que como a maioria da população trabalha e mesmo assim tem dificuldade de, no final do mês, pagar as contas. Gente que está indignada. Participar das brigadas do Jornal A Verdade é um momento de esperança, porque apresentamos nossas denúncias, pautamos a solução e, ao decidir comprar o jornal, as pessoas mostram confiar em nosso projeto." Só o tempo dirá se A Verdade seguirá aumentando a tiragem de sua versão impressa.


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