Os 19 anos que separam o ataque às torres gêmeas do tempo presente não eliminam sua importância
Anne Poly
(Capa do dia 12 de setembro de 2001 do jornal The New York Times/Imagem: Reprodução)
O dia 11 de setembro de 2001 é uma data mundialmente conhecida. Dezenove anos depois, as cicatrizes remanescentes daquele momento ainda marcam dolorosamente a história da humanidade. No dia seguinte, o jornal The New York Times estampou em sua capa a chocante notícia: U.S. attacked; hijacked jets destroy twin towers and hit Pentagon in day of terror (“EUA atacado; jatos sequestrados destroem torres gêmeas e atingem Pentágono em dia de terror”, em tradução livre). N. R. Kleinfield, autor da reportagem e vencedor de importantes prêmios na área jornalística, abordou o ataque às torres gêmeas focando nas vidas completamente perplexas diante do caótico acidente, incluindo múltiplos depoimentos ao texto. Essa grande matéria transporta o leitor para um período de horror e choque e a leitura é absolutamente eletrizante.
A descrença perante a queda das torres gêmeas inicia o texto do jornalista. A cena do buraco flamejante no meio da primeira torre já parecia ser um pesadelo, e então, quando a segunda também sofreu o ataque, o mundo deixou de fazer sentido. Os majestosos edifícios foram ao chão, e aproximadamente 3 mil pessoas também sucumbiram à devastação dos centros comerciais. A tentativa de imaginar o que se passava pela cabeça de milhares de seres humanos completamente aterrorizados é tão angustiante que pesquisar sobre o atentado gera desconforto. Entretanto, entender o que aconteceu naquele fatídico dia não deixa de ser uma obrigação, não só para aqueles que leem a matéria, como para as gerações futuras. Isso não pode ser esquecido.
Nenhum lugar é seguro. Essa foi a constatação feita por aqueles que tentavam fugir da tragédia enquanto ela acontecia. O distanciamento da realidade assustadora era impossível, e horas de aflição enlouqueceram as vítimas. Um ex-soldado vietnamita ainda afirmou que aquilo parecia ser o portão do inferno. Anos depois, sabemos que os ataques foram coordenados pela organização fundamentalista islâmica al-Qaeda, mas o atentado era recente demais para que informações como essa fossem estabelecidas. O terror era tudo o que Kleinfield tinha em suas mãos e foi isso que ele transmitiu por meio de suas palavras.
Aqueles que avistaram um avião largo voando baixo e sobreviveram para contar ficaram incrédulos diante do que acontecia. Ele tinha uma missão suicida e nem tentou desviar da primeira torre. Os depoimentos indicam que era difícil entender o que se passava, e então uma grande explosão destroçou os andares superiores do prédio. Contudo, o pior ainda estava por vir. Se hoje a situação parece agonizante, aquele momento deve ter sido inacreditável para os que o viveram. O relato de uma mãe que deixou seu bebê em uma creche dentro do edifício, enquanto trabalhava em um andar mais baixo, e correu em direção ao caos para salvar sua criança, é emocionante. O desespero da mulher não a impediu de arriscar sua própria vida em prol de outra.
O jornalista passou a relatar o que se passava nas ruas durante o atentado, e o desespero não era menor. Quem tinha conseguido fugir agora tinha que lidar com a histeria e com todas as mortes ao seu redor. Corpos despencaram dos destroços dos prédios. No entanto, algumas pessoas tiveram sorte e faltaram o trabalho justamente naquele dia ou tiveram um outro compromisso naquele horário. Essas felizes coincidências as livraram de uma enorme tragédia. Ao longo da narrativa do autor, é fácil se esquecer de tudo em volta e focar apenas na leitura. A escrita envolvente absorve a concentração do leitor, que passa a entender com mais nitidez o horror do 11 de setembro.
Quando o choque inicial passou, a visão das ruínas dos até então dois edifícios comerciais mais importantes do mundo abalou os sobreviventes. Os 110 andares que cada um deles tinha foram destruídos. No lugar dos prédios, restou a visão do céu. Depois, detalhes como os motivos para o ataque e quantas vidas foram perdidas foram descobertos, ainda que nada possa explicar com clareza o que aconteceu naquele momento. O terror daquele atentado é indescritível até os dias de hoje.
No lugar da tragédia foi construído o Memorial e Museu Nacional do 11 de setembro. Além de turistas que visitam o local construído e lamentam tudo o que aconteceu, parentes e amigos daqueles que morreram prestam suas homenagens e honram as vítimas daquele fatídico acontecimento. As repercussões daquele dia ainda não cessaram, e nunca vão cessar.
(Memorial & Museu Nacional do 11 de Setembro/Imagem: Reprodução)
A matéria de N. R. Kleinfield marcou a história. Sua maneira de falar sobre aquele acidente foi sábia e simples. Mesmo que o jornalismo tenha um cunho objetivo e impessoal, o autor conseguiu a proeza de torná-lo o mais pessoal possível, com o uso de diferentes perspectivas dos sobreviventes do então recente acontecimento. A leitura é altamente recomendada para quem deseja um olhar humano e delicado sobre o lastimável atentado. Essa reportagem, com toda a sua maestria e grandeza, torna o dia 11 de setembro ainda mais significativo.
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