Uma conversa com a colunista da Vogue Brasil, Ju Ferraz, para entender o papel da imprensa em uma moda inclusiva
Maria Clara Monteiro Corato
A colunista da Vogue Brasil, Ju Ferraz, publicou uma matéria intitulada "Uma passarela com diversidade de corpos é suficiente para a moda ser inclusiva?”. No texto, ela destaca a importância dos desfiles plurais, que não negligenciam corpos reais, e defende que a moda deve ser mais acessível e democrática também na hora em que chega ao público. Com críticas à indústria fashion, que mesmo com avanços ainda é muito restrito a um único padrão feminino, Ju Ferraz faz um levantamento importante com sua reportagem, colocando o jornalismo que cobre este mercado como elemento ativo na elaboração de uma moda mais diversa.
A colunista Ju Ferraz defende uma moda mais inclusiva. (Foto: reprodução/LinkedIn)
Em cima das passarelas, a moda tem expandido seus horizontes e conseguido abraçar mais diversidade e representatividade. É possível enxergar os passos que estão sendo dados para uma moda mais livre e menos opressora. Muitos movimentos que ganharam repercussão empurraram a moda dos desfiles para esse caminho. O movimento Corpo Livre é um desses exemplos, que tem como objetivo tornar cada vez mais mulheres livres de padrões de beleza impostos pela sociedade, indústria, familiares ou até por elas mesmas. Nos últimos anos, esse assunto ganhou força e se tornou pauta importante nas redações e fora delas.
Para Ju Ferraz, nós ainda estamos no começo da transformação da moda brasileira. Ela avalia que é necessária uma reorganização cultural e estrutural para existir, no Brasil, uma moda mais inclusiva, diversa e plural de verdade.
“Eu acredito 100% em um cenário da moda menos opressor. Acredito 100% que a gente vai ter uma moda mais inclusiva, uma moda mais plural e diversa. Mas a verdade é que a gente vai demorar um pouco. Falta conhecimento, falta força de vontade de mudar isso tudo e falta mais do que isso: educação. Enquanto a moda não enxergar o potencial de estima e o potencial econômico na moda plural, não vai haver essa mudança. Então, é para isso que eu durmo e acordo todos os dias, combatendo e lutando por essas mudanças”, conta.
Modelos desfilam durante a São Paulo Fashion Week de 2021 (Fotos: Reprodução/Instagram @spfw/Alto Astral)
A diversidade e representatividade que podemos celebrar pelos avanços positivos, mesmo que lentos, a cada semana de moda, não parece chegar ao mercado para o grande público. Em um Brasil em que sete em cada dez brasileiros ficam sem dinheiro antes do fim do mês, segundo Serasa Experian e do Instituto Geoc, as passarelas, semanas da moda e alta costura são realidades distantes da vida real.
É preciso que as marcas, que estão a serviço do grande público, estejam abertas a proporcionar uma moda plural. A dificuldade de estabelecer a quebra do padrão no mercado vem de uma lógica ainda muito machista e opressora que tenta a todo custo encaixar corpos, sobretudo femininos, em modelos inalcançáveis e doentios.
Manequins em vitrine de loja: o padrão da moda feminina atual (Foto: Reprodução/iStock)
Segundo Ju Ferraz, é possível enxergar o jornalismo como meio de reivindicar para as marcas no mercado uma moda que seja acessível a todos os tipos de corpos, “É papel do jornalismo questionar, potencializar o que tem sido feito de bom. Vejo ainda um jornalismo que retrata os acontecimentos com menos questionamentos e acho que a gente deveria entender da nossa responsabilidade social para fazer com que as marcas, os bastidores e os empreendedores mudem e tornem a moda mais inclusiva e mais plural”, finaliza a colunista.
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