Repórteres viajaram até a reserva indígena e se depararam com o avanço do garimpo ilegal e suas consequências nas comunidades. O cenário de famílias em situações precárias mostra a grave situação que assola os povos yanomami
Luana Borges
Crianças e adultos vítimas de desnutrição, malária, pneumonia e contaminação por mercúrio. Essas foram as circunstâncias em que os repórteres Sônia Bridi e Paulo Zero encontraram os povos indígenas na terra Yanomami, no norte do Brasil. O trabalho cuidadoso dos profissionais da mídia foi fundamental para chamar a atenção da população e dos governantes para a situação. Desde o início do governo Bolsonaro, em 2019, as fiscalizações de garimpo ilegal foram afrouxadas, por isso as terras começaram a ser invadidas sem pudor, causando prejuízos aos povos originários da região.
Sônia Bridi e Paulo Zero são parceiros na vida e no trabalho. A maioria de suas reportagens são voltadas para questões de impacto social. A profundidade nas matérias e assuntos relevantes são algumas das características de suas produções. Não é de hoje que a jornalista denuncia as condições precárias que os indígenas vivem. Em 2021 já vinha mostrando, no programa Fantástico, a frágil situação dos povos Yanomami, que não era tão grave na época. Em entrevista, Sônia demonstrou bastante insatisfação pelo descaso com que a situação foi tratada: “E não houve reação por parte do governo. Eu estava tentando entrar na terra Yanomami há muito tempo, mas não tinha segurança para entrar. Como entrar em um território tomado por bandidos?”, disse ela, referindo-se aos garimpeiros criminosos que habitavam o local, e eram incentivados pelo governo da época.
As imagens comoventes rodaram o mundo, gerando preocupação de outros países. Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA disse à BBC News Brasil que o governo estadunidense estaria disposto a ajudar de qualquer maneira possível. Além de ONGs, agências como a Funai (Fundação Nacional do Índio), organizações indígenas e de direitos humanos. Tudo isso graças ao importantíssimo trabalho empenhado pela jornalista e o cinegrafista, que diferente de 2021, conseguiu chamar a atenção para a causa.
É admirável o cuidado e empenho que Sônia Bridi tem ao cobrir assuntos relacionados aos povos originários. Nós telespectadores conseguimos sentir a comoção através da narração dela e imagens de Paulo Zero. Estive presente em uma palestra em que Sônia relatou um pouco do que viu e sentiu de perto durante os dias que passou em terras Yanomami. Na imagem abaixo vemos a jornalista segurando uma criança no colo por faltar assistência à população, e não ter pessoas o suficiente para essa função. Ela relatou que não queria que essa parte fosse mostrada na reportagem para não ter enfoque nela. Mas acabou indo ao ar e fez com que mais pessoas se solidarizaram com a causa. As imagens chamam atenção por na maioria das vezes só ter narração, e não cenas da própria repórter. Ela esclareceu que o intuito é alertar o público para o tema, e que a aparição dela é de certa forma irrelevante, porque o conteúdo já fala por sí.
Existem poucos conteúdos em alta relacionados a esse e a similares assuntos. A impressão que passa é que a população prefere se engajar nos acontecimentos de fora do país, e acaba se esquecendo que existem tragédias tão terríveis aqui bem pertinho de nós, que precisam do nosso apoio, olhar crítico, cuidadoso e reflexivo.
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