Sthefani Maia
O FBI e a Lava Jato. A República das Milícias. Rachadinhas S/A. Da Tortura à Loucura. Por dentro do Pandora Papers. Esses são apenas alguns dos títulos encontrados ao longo dos episódios do podcast Pauta Pública. É... não se poderia esperar menos de um projeto criado pela primeira agência de jornalismo investigativo do Brasil, a premiada Agência Pública. O programa convida os jornalistas por trás das reportagens abordadas para dar seu depoimento, abarcando os desafios e o que há de melhor na profissão. Mas, principalmente, ele aproxima o ouvinte à experiência do que é o fazer jornalístico na prática – tudo isso deixando o glamour de lado.
(Pauta Pública / Imagem: Reprodução)
O 16º episódio sintetiza a proposta do Pauta Pública ao transportar os ouvintes para os bastidores das investigações sobre as denúncias de um esquema de abusos sexuais que teria sido mantido por Samuel Klein, fundador das Casas Bahia, onde crianças de famílias em situação de vulnerabilidade socioeconômica eram vítimas da violência por quase três décadas. Os autores da reportagem são Clarissa Levy e Ciro Barros – a dupla convidada para a conversa detalhada no episódio –, Andrea Dip, Thiago Domenici, Rute Pina e Mariama Correia, todos jornalistas da Agência Pública. “O que mais me chocou foi perceber como o esquema de exploração sexual que foi denunciado era escrachado”, conta Levy. A reportagem especial da Agência Pública, chamada “Caso K”, é atualmente finalista do Troféu Mulher Imprensa na categoria “Melhor projeto: canal, programa, reportagem especial ou série sobre a temática feminina”.
Dentre os convidados do Pauta Pública também está Patrícia Campos Mello, repórter da Folha de S.Paulo e autora do livro que dá nome ao 12º episódio, A máquina do ódio: Notas de uma repórter sobre fake news e violência digital. No podcast, ela fala sobre a repercussão de sua reportagem durante a eleição de 2018, intitulada “Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp”, o que gerou uma onda de ataques de bolsonaristas contra ela. “Tem muitas jornalistas mulheres que, dia e noite, sofrem esse tipo de ataque. Sempre uma coisa muito misógina. E principalmente mulheres negras, que são mais visadas ainda”, diz.
No episódio “Mil dias sem Marielle, como o jornalismo mudou o rumo do caso”, Vera Araújo, repórter em O Globo e autora do livro Mataram Marielle: Como o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes escancarou o submundo do crime carioca, fala sobre as inconsistências, as falhas na perícia do caso e como foi o seu processo de investigação desde o início, incluindo como encontrou e conversou com testemunhas do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 2018. Ela captura a atenção dos ouvintes logo no início, quando diz: “Gosto de ir no local, quando é possível. Às vezes vou na folga, como aconteceu no caso da Marielle. Fiquei controlando a hora para estar mais ou menos no horário em que o crime aconteceu, para, justamente, observar o local, ver se tinha câmera, ver a luminosidade, conversar com testemunhas e, quem sabe, trazer um fato novo”.
Lançado em setembro de 2020 em parceria com a Rádio Guarda-chuva e atualmente com 27 episódios, o podcast vai ao ar quinzenalmente, às sextas-feiras, com duração aproximada de 40 minutos e locução dos jornalistas Andrea Dip e Thiago Domenici. Ao final, ele é dividido em pequenos blocos, como o “A boa do povo”, onde os convidados podem fazer indicações culturais.
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