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Reportagem destaca a importância do termo “genocídio” no combate ao racismo estrutural

Maria Eduarda Guimarães

(Homenagem do artista Pedro Magalhães à Claudia Silva Ferreira, morta por uma operação da Polícia Militar do Rio de Janeiro, baleada e, em seguida, arrastada por volta de 300 metros por uma viatura)


As palavras que escolhemos podem influenciar profundamente na mensagem que buscamos transmitir. Esse fato se torna ainda mais latente nas produções jornalísticas: uma palavra no lugar da outra pode mudar totalmente o pensamento de alguém sobre o conteúdo lido. Publicada no site Hypeness, a reportagem O uso da palavra ‘genocídio’ no combate ao racismo estrutural explica porque a expressão “genocídio do povo preto” deve ser amplamente utilizada e quais são os motivos que tornam o seu uso é legítimo e de extrema importância.


Para além de explicações sobre o uso de determinada palavra, os repórteres Clara Caldeira e Kauê Vieira explicam o racismo a partir de sua raiz histórica; desde a estruturação do capitalismo pelo tráfico negreiro, até como (e porque) esse mal continuou a crescer mesmo após o fim da escravidão no mundo. Citando a teoria da filósofa norte-americana Angela Davis, o texto demonstra como a desigualdade social afeta mais os pretos e como essa é uma violência clara e inadmissível. Além disso, diversos dados são levantados com o intuito de mostrar que o sistema é racista desde a sua base, permeando todos os âmbitos da vida das pessoas pretas, sempre as colocando em risco de alguma forma.


Um ponto importante na matéria é a explicação acerca da origem do conceito sobre o que é genocídio, palavra citada pela primeira vez por Raphäel Lemkin, um jurista polonês de descendência judaica. Utilizando a teoria de Hannah Arendt em As origens do totalitarismo, genocídio é explicado como extermínio em massa de indivíduos que se identificam por uma determinada etnia ou raça. O conceito de racismo da filósofa é utilizado para reforçar a importância do racismo na estruturação do capitalismo por meio do “violento processo de conquista e exploração das Américas, que permitiu o fluxo e o acúmulo de riquezas", como os próprios jornalistas pontuam.


A visão linguística também é explorada para salientar a importância do termo, e é aí que o jornalismo faz toda a diferença. Os repórteres destacam que a escolha semântica também é política e exemplificam isso apontando como o uso da palavra “racismo” aumentou, tendo em vista que ela era considerada um tabu no passado. Eles destacam que usar a palavra “racismo” é assumir que esse mal existe e deve ser combatido, e da mesma forma, usar a palavra “genocídio” para tratar a morte de pessoas negras é essencial para lembrar que essas mortes têm uma causa estrutural e sistemática.


A imprensa deve ser antirracista, as notícias devem ser democráticas e, portanto, ativas contra as injustiças sociais e livres de qualquer preconceito. Para que isso ocorra, o texto lembra como é importante “interseccionalizar” as pautas sociais ao abordá-las de forma jornalística. Por exemplo, se uma pesquisa demonstra que as mulheres negras são as maiores vítimas de abuso sexual, é necessário deixar claro que, ainda que o machismo atinja todas as mulheres, atinge ainda mais as mulheres pretas. O jornalista deve ter responsabilidade não só sobre o que é exposto, mas sobre como será exposto.


A matéria não mostra somente porque a palavra “genocídio” deve ser usada no contexto da desigualdade social brasileira, mas de que forma ocorre esse genocídio, perpassando desde a exclusão de oportunidades e precarização do acesso aos direitos básicos de saúde até o sistema policial racista que tanto violenta a população negra. Além disso, destaca como as palavras usadas pela mídia influenciam diretamente o pensamento das pessoas, realçando a importância do jornalismo para a sociedade.


De forma didática, o texto consegue te transportar e fazer o leitor enxergar mais profundamente sobre a importância desse termo. A princípio, a violência da palavra nos assusta, mas após a análise, entende-se que “genocídio” contempla de forma contundente o que ocorre com os negros no Brasil. Recheado de hiperlinks interessantes e imagens ora artísticas, ora históricas, o texto te cativa e desperta interesse.


Além disso, a matéria é escrita com muito embasamento teórico e uma pesquisa extensa, trazendo maior consistência sobre um tema que exige seriedade. Essa profundidade demonstra que nem sempre os textos jornalísticos devem ser rápidos e diretos, mas que podem transitar por outras áreas e despertar o pensamento crítico do leitor. Esse fator é um entre vários dos que tornam o texto essencial não só para os estudantes de Jornalismo, mas também para toda a sociedade brasileira.


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