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Rota 66 e os pilares do jornalismo

Atualizado: 5 de nov.

Livro-reportagem de Caco Barcellos reforça a importância de escutar grupos marginalizados no jornalismo


Por Nayara Oliveira


Como é falado logo na página de apresentação do livro, Caco Barcellos é um jornalista que está do lado das vítimas e dos mais fracos. Esse tipo de história me encanta, acho que é importante dar voz àqueles que não costumam ser ouvidos, que são negligenciados pela sociedade e pelo Estado. Por me identificar com esta abordagem temática, resolvi escrever sobre esse livro que foi a minha primeira leitura completa de um livro-reportagem.


Capa do livro Rota 66 (Imagem: Grupo Editorial Record)


Caco quando revelou a investigação que resultou no livro (Imagem: Profissão Repórter)


A relevância desse tema é indiscutível, pois fala sobre um esquema criminoso da Polícia Militar de São Paulo, que começou nos anos 70.  Eles mataram mais de 4000 pessoas, e 65% dessas vítimas nunca tiveram envolvimento com o crime. Nos veículos de comunicação tradicionais, inclusive no que Caco trabalha, a TV Globo, muito se fala sobre quem o Estado mata, ou pune, mas pouco se fala das pessoas que trabalham para ele, muitas vezes de forma corrupta. Esse tema gera muitas polêmicas, e alguns leitores não gostaram do livro, alegando que ele coloca os culpados como vítimas.


Esta obra é um livro-reportagem investigativo, que foi fruto de um trabalho jornalístico de sete anos. Ele analisou dezenas de caixas de documentos oficiais, tendo como fontes: Instituto Médico Legal (IML), Polícia Civil, jornais, e o principal, as famílias das vítimas, que, em alguns casos, foram ouvidas pela primeira vez, graças à produção desse livro. Mais uma vez, ressaltando que o trabalho do repórter é focado em dar voz aos menos favorecidos.


Acredito que o roteiro das reportagens investigativas tenha basicamente a mesma base. Análise prévia dos órgãos e pessoas envolvidas, e pesquisa mais a fundo sobre um determinado assunto. Neste caso foi uma apuração complexa, que envolveu pessoas que estão mortas, ou seja, obviamente, não podem prestar depoimentos. Por isso a importância de ouvir a família dessas pessoas, para seguir dois pilares do jornalismo: Ser imparcial e ouvir vários lados, além de envolver a honra da memória dessas vítimas. Apuração, investigação, entrevistas, infiltração, uso devido de fontes e personagens, foram as técnicas jornalísticas usadas.


“Ou eles nos alcançam nos próximos 200 metros, ou nós chegaremos ao acesso do campo dos padres, bom ponto de fuga. Nosso bairro não tem esgoto canalizado. Nos obriga a correr como cangurus. Vamos saltando, de 10 em 10 metros, sobre as valetas de detritos a céu aberto, que saem das casas e deságuam na grande vala à margem da rua. Sem problemas. Temos prática, dá para pular até de olhos fechados sem jamais sujar os pés.”  

Esse trecho do livro está no segundo capítulo, e já faz com que os leitores entendam o pânico que algumas pessoas tinham dos policiais, além dessa fuga já ser rotineira. Nesse caso, motivados pela violência que sofriam do delegado conhecido como Doutor Barriga. A presença de personagens como ele é o que faz o livro ser ainda mais especial. Pois conseguimos entender de forma evidente como acontecia a injustiça do Estado com minorias, principalmente periféricas, que muitas pessoas não acreditam acontecer. E além disso, essa realidade ainda é muito comum no Brasil, e mesmo que o livro tenha sido escrito em 1992, o cenário é o mesmo, pessoas inocentes, diversas vezes são alvo da violência e injustiça de uma polícia corrupta. 


Pixote, homem assassinado pela polícia após supostamente participar de um assalto, foi um caso mostrado no livro de Caco (Imagem: Profissão Repórter)


Livros como esse, escritos por jornalistas, têm uma clareza maior com relação aos detalhes. Fica mais fácil compreender e imaginar uma cena que é lida. O jornalista é aquele que se atenta aos detalhes e é um especialista em reproduzir e retratar, da forma mais detalhada possível, um fato. Por isso a riqueza de detalhes em livros-reportagem, pelo olhar atento de um jornalista que busca, apura e se dedica integralmente à informação. 


O autor tem outras obras, inclusive - Abusado: o dono do Morro Dona Marta - , que fala sobre as organizações criminosas, o oposto do Rota 66. E ainda assim, os dois têm muita coisa em comum. Rota 66 recebeu o prêmio Jabuti na categoria Reportagem em 1993. Além desses, também tem o livro Profissão Repórter, lançado em homenagem aos 10 anos do programa da TV Globo, na qual Caco trabalha até hoje.




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1 Comment


Nayara tem um talento nato de passar as informações de forma clara e objetiva!!! Talentosa demais!!!

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