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“Succession”: qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência!

Rafaela Toledo


ALERTA: Contém spoilers!


Criada pelo inglês Jesse Armstrong, Succession, série ficcional da HBO, conta a história dos Roys. A família é dona da Waystar Royco, um dos maiores conglomerados de mídia do mundo, que atua nas áreas do jornalismo, audiovisual e entretenimento, contando com parques de diversão e cruzeiros marítimos.


Na foto, os Roys, família ficcional da série Succession da HBO / Foto: Divulgação


A empresa da série foi fundada e é comandada há várias décadas por Logan Roy (Brian Cox), imigrante irlandês, que, com a saúde fragilizada, percebe que precisa nomear um sucessor caso algo lhe aconteça. Muito além de poder econômico, o patriarca possui enorme poder de influência nos rumos políticos e econômicos dos EUA, devido ao peso que seus telejornais assumiram ao moldar o homem médio estadunidense.

Em meio a relações familiares complicadas e jogos de poder, assistimos seus filhos Connor (Alan Ruck), Kendall (Jeremy Strong), Roman (Kieran Culkin) e Siobhan (Sarah Snook) lutarem para atender às expectativas de um pai hiperpoderoso e onipresente, em busca do comando do império midiático.

Além das disputas entre os Roys, acompanhamos os desafios para a modernização e sobrevivência de uma empresa de comunicação que ainda se sustenta nas mídias tradicionais, principalmente através da televisão.

Para se reinventar, a Waystar Royco precisa não só passar para o mundo digital, com presença nas redes sociais e distribuição de conteúdo através de plataformas de streaming, mas também se adequar aos valores éticos e morais da contemporaneidade.

Qualquer pessoa que assista Succession pode notar, no entanto, que alguns personagens, acontecimentos e problemáticas da série se assemelham a situações do mundo midiático e político que vivemos. E é fascinante acompanhar as intrigas na série para entender a realidade, que muitas vezes não se revela, por ficar no meio de multimilionários.


Poder de influência


A primeira e mais óbvia referência à realidade da série é a semelhança entre Logan Roy e Rupert Murdoch, dono da News Corp. Ambos são patriarcas, com idade avançada, de famílias controladoras de grandes impérios midiáticos que disputam por seu comando. Além de serem geridas no âmbito familiar, tanto a Waystar Royco como a News Corp atuam a serviço de um interesse maior e servem como ferramentas de influência política.


Na foto, Brian Cox (que interpreta Logan Roy) à esquerda e Rupert Murdoch, à direita / Foto: Boss Hunting


A News Corp, de Murdoch, é responsável, dentre outros, pela Fox News, canal de notícias conservador que se consolidou através da divulgação de reportagens tendenciosas em favor do Partido Republicano e se tornou uma máquina de propaganda do governo de Donald Trump. Além disso, o canal, constantemente acusado por seus comportamentos polêmicos, afirmou que o coronavírus é uma “farsa” e minimizou os impactos da pandemia.

De forma muito parecida, na ficção, a ATN da Waystar Royco também legitima as causas conservadoras e serve como ferramenta para atender aos interesses políticos do seu dono, que conversa diretamente com o presidente estadunidense e tem acesso direto à Casa Branca em alguns episódios da série. O comando do jornal televisivo da ATN é inclusive alvo de disputas durante a série, e o posicionamento de seus âncoras causa incômodos, semelhantes aos comentados no caso da Fox News.


Na foto, Rupert Murdoch encontra Donald Trump em seu campo de Golfe na Escócia, em 2016 / Foto: Carlo Allegri/Reuters (New York Times).


Sobrevivência e modernização


Quando a Waystar Royco compra a Vaulter, uma nova startup de mídia, assistimos mais uma vez a ficção imitar a vida. Isso porque, em 2013, a Fox investiu na Vice, a “Vaulter do mundo real”, e tornou James Murdoch, filho de Rupert, seu diretor. Os investimentos em sites e novas mídias, principalmente vídeos na internet, mostram a tentativa de ambas as empresas para se modernizar e sobreviver no mundo digital, de forma que não percam sua relevância.


Os escândalos secretos


Durante a 2ª temporada de Succession, ocorre ao vazamento dos relatórios sobre assédios sexuais, prostituição e possíveis assassinatos na divisão de cruzeiros da Waystar Royco, que foram abafados anteriormente. O escândalo obriga Logan Roy e seu filho Kendall a testemunhar diante do Senado e a eleger um bode expiratório para assumir a responsabilidade pelos crimes, tranquilizando os acionistas, que pediam o afastamento de Logan.

O episódio guarda semelhanças com o caso Roger Ailes, antigo diretor da Fox News, afastado do cargo após inúmeros casos de assédio sexual e do escândalo de hackers da News Corp em 2011. Na ocasião, o jornal britânico da empresa dos Murdoch, “News of the World", foi investigado por utilizar hackers nos telefones da realeza, celebridades e vítimas de crimes para obter suas histórias. Como também ocorreu na série, Rupert Murdoch e seu filho James, testemunharam perante o Comitê de Cultura, Mídia e Esporte do Parlamento inglês, resultando na saída de James do cargo de presidente executivo da unidade editorial da News Corp no Reino Unido.



Acima, Rupert e James Murdoch na corte do Reino Unido / Foto: PARBUL/AFP/Getty Images

Abaixo, os personagens ficcionais, Logan e Kendall Roy no Senado estadunidense / Foto: HBO



Rivalidades de grandes conglomerados midiáticos


Também na segunda temporada de Succession, os Roys encontram uma família rival, os Pierces, donos da PGM (Pierce Global Media). Essa empresa de mídia adota uma postura bem mais liberal do que a Waystar Royco e detém o jornal New York Mail.

No encontro, Logan anuncia sua intenção de comprar a empresa dos Pierces, mas a tentativa é frustrada.

Supostamente os Pierces foram inspirados nos Sulzbergers, donos do New York Times desde 1896, que mesmo em meio a tentativas de compra, conseguiram manter o controle do jornal dentro da própria família, assim como acontece em Succession.


Fim dos impérios familiares?


As semelhanças não param por aí. No mundo real, Rupert vendeu a maior parte da News Corp para a Disney, em 2018.

“Assim que o acordo com a Disney foi fechado, a Fox deixou de ser o que fora por muitos anos. Sem o estúdio de cinema e as redes de TV a cabo, sobraram a Fox Broadcasting Company, a Fox Sports e a Fox News – aquilo com o qual Rupert se importa mais do que tudo”, diz Matthew Belloni, ex-diretor editorial do The Hollywood Reporter e sócio fundador da Puck News, em entrevista para a série documental Murdoch, que conta a história da família.

Com essa decisão, Rupert manteve o controle da parte mais essencial e influente da empresa e parece ter resolvido problemas relacionados à sua sucessão.

No episódio final da 3ª temporada, Logan também revela seu plano de vender a Waystar Royco e passar seu controle para alguém de fora da família. A empresa seria adquirida pela a GoJo, companhia de streaming que possui plataformas de distribuição de conteúdo no mundo digital, exatamente o ponto de fragilidade da Waystar.

O futuro do império Roy é incerto, assim como o dos sucessores e filhos de Logan, que entendem o movimento do pai como um voto de não confiança e uma tentativa de tirar o comando da empresa da família.

Vamos ter que aguardar o lançamento da 4ª temporada da série, que está previsto para o primeiro semestre de 2023, para saber se o episódio vai resultar, de fato, na venda da Waystar Royco e o início de uma nova era, se espelhando no que ocorreu com a News Corp.








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